
Ficha de leitura de um artigo científico com o título Diversidade e comportamentos juvenis: um estudo dos estilos de vida de jovens de origens étnico-culturais diferenciadas em Portugal, de Isabel Resgate.
Este artigo foca essencialmente o estudo da relação entre as minorias étnico-culturais em Portugal e os comportamentos de risco na adolescência. A reconstrução da identidade na adolescência é um processo difícil e complexo sendo ainda mais no caso das minorias devido à aculturação, discriminação, preconceito, desenraizamento, desigualdades económico-sociais, sistemas culturais diferenciados e hierarquizados a que estão sujeitas (Resgate, 2001:345;353;360). Muitos dos hábitos e comportamentos dos adolescentes são um reflexo da sua sociedade. No entanto, pode constatar-se ao longo do artigo que os jovens pertencentes às minorias étnico-culturais são os que menos apresentam comportamentos considerados perigosos como o «abuso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, violência social, suicídio, acidentes de viação». (Resgate, 2001:346).
Este artigo foca essencialmente o estudo da relação entre as minorias étnico-culturais em Portugal e os comportamentos de risco na adolescência. A reconstrução da identidade na adolescência é um processo difícil e complexo sendo ainda mais no caso das minorias devido à aculturação, discriminação, preconceito, desenraizamento, desigualdades económico-sociais, sistemas culturais diferenciados e hierarquizados a que estão sujeitas (Resgate, 2001:345;353;360). Muitos dos hábitos e comportamentos dos adolescentes são um reflexo da sua sociedade. No entanto, pode constatar-se ao longo do artigo que os jovens pertencentes às minorias étnico-culturais são os que menos apresentam comportamentos considerados perigosos como o «abuso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, violência social, suicídio, acidentes de viação». (Resgate, 2001:346).
De acordo com Erikson, a interacção com os outros significativos desempenha um importante papel na construção da identidade dos adolescentes. No caso dos adolescentes pertencentes a minorias, a relação familiar especialmente estável parece ter bastante impacto na autonomia, na confiança e na iniciativa dos jovens em relação às escolhas que fazem no dia-a-dia e aos comportamentos e atitudes que adoptam. Os jovens tornam-se mais seguros de si, parece haver uma grande aceitação dos valores culturais e menor conflitualidade com os pais em comparação com os jovens portugueses retratados neste estudo. Por terem mais dificuldades de se integrar socialmente, parece existir uma ligação emocional adequada entre o indivíduo e a sua família, o que poderá indiciar que a fase exploratória foi ou está a ser ultrapassada com sucesso proporcionando a valorização do indivíduo e fornecendo bases firmes e investimento para o seu futuro. Apesar das contrariedades, regra geral, a construção e a exploração pessoal da identidade dos adolescentes pertencentes a minorias étnicas e culturais diferenciadas em Portugal parece ser mais positiva do que a dos adolescentes portugueses. Os jovens portugueses, neste estudo, parecem estar em difusão de identidade caracterizada por uma ligação emocional de insegurança e de conflitos familiares, muitas vezes devido à ausência dos pais, que trabalham fora de casa, e à sua pouca disponibilidade para com os filhos. Nunca nos podemos esquecer que a construção da identidade depende de factores interdisciplinares, entre os quais os aspectos biológicos e genéticos. «É a dinâmica das relações entre factores nomeadamente mediados por diferentes genomas e os infinitos condicionantes do ambiente, sobretudo proporcionados pelos laços afectivos e morais, o que determina o comportamento e, com ele, o modo de viver, de ser e de estar» (Gomes-Pedro, 2004:39). Isto pode explicar, de alguma forma, o facto de os jovens portugueses apresentarem maior tendência para comportamentos de risco em relação aos jovens de grupos minoritários.
A própria escola pode ser potenciadora, ou não, de comportamentos considerados de risco. É frequente assistir-se nas nossas escolas a situações de racismo, de preconceito, de marginalização, de exclusão, por parte não apenas dos alunos, mas também por parte dos professores e de outros funcionários. Este tipo de atitudes pode levar a que os jovens se sintam vítimas do sistema escolar e comecem a procurar alternativas, por vezes nada saudáveis, que permitam aos adolescentes “sobreviverem” perante tão negro cenário. Os jovens acabam, nestes casos, por não desenvolver laços afectivos fortes com a escola o que se traduz em insucesso e abandono escolar. Neste estudo, os professores parecem não se incluir nesta descrição, embora apresentem dificuldades em dialogar com os alunos sobre os seus problemas. As aspirações profissionais dos jovens variam de acordo com a sua ascendência étnico-cultural. «Flewelling & Bauman (1990) (…) consideram que o percurso educativo dos jovens depende do estatuto socio-económico e cultural da família» (Resgate, 2001:355). A escola deveria adoptar e ensinar estratégias específicas de combate e de prevenção da violência e para a resolução de conflitos de forma pacífica (Martins, 2005:132). Aqui destacam-se a formação de docentes, a cooperação com os pais e a aprendizagem cooperativa como promotora de valores como a entreajuda, a solidariedade, o respeito pelo outro, a valorização das diferenças, enfim, valores inerentes a uma cidadania responsável. A escola deveria também providenciar formação e informação de qualidade aos seus alunos para que estes estivessem sempre conscientes dos perigos que correm ao adoptar determinados tipos de comportamentos nocivos.
Da mesma forma que a família e a escola, também o grupo de pares representa uma enorme importância no desenvolvimento psicossocial dos adolescentes. Os interesses do grupo são comuns, existe uma identificação dos adolescentes com valores que caracterizam o grupo de pares. Daí a importância da escolha de pares e a influência exercida pelo grupo na construção do self, ou seja, de acordo com os valores adoptados pelo grupo, a influência do ingroup sobre os jovens pode ser positiva ou, pelo contrário, pode levar a comportamentos desviantes. A escola é um lugar privilegiado para a formação de grupos. «Deste modo, no contexto escolar, muitas vezes, o repetido insucesso pode levar, tal como propõem Robinson e Tayler (1976, 1981), à adesão a um grupo com valores diferentes da cultura escolar, exactamente para protecção da auto-estima» (Gouveia-Pereira, Pedro & Amaral et al, 2000:194). Esta fase representa uma maior autonomia, especialmente no que se refere aos pais. Os jovens não estão tanto tempo em casa, preferem estar com o grupo – Processo de separação/individuação. Mais uma vez, o estudo comprova que quem tem mais tendência para integrar grupos de risco são os adolescentes portugueses e não os jovens pertencentes a grupos minoritários, provavelmente devido à maior dificuldade de integração social, não por parte destes jovens, mas devido à resistência dos jovens portugueses que no fundo representam os valores e os preconceitos da nossa sociedade. Obviamente, cada caso é um caso.
Quanto a mim, a família, a escola e o grupo de pares são os três factores sociais e culturais mais representativos na construção da identidade dos adolescentes e consequente formação de valores, atitudes e comportamentos. Existem inúmeros factores que influenciam positivamente a identidade dos jovens como por exemplo a ocupação dos tempos livres de forma construtiva, actividades religiosas, pertença a grupo de actividades extracurriculares, etc. O estudo conclui que é de extrema importância dotar os jovens de formação adequada e diferenciada ajustada às características e necessidades de cada indivíduo. O conteúdo das intervenções e das estratégias pedagógicas utilizadas deve ter em conta a condição social, económica, individual e cultural de cada um com vista à realização plena, à adopção de etilos de vida saudáveis, ao desenvolvimento das capacidades de decisão, ao respeito e à valorização do outro que, sendo diferente, é semelhante. Há que respeitar as diferenças e valorizar as diferenças do outro, afinal nós próprios também somos diferentes.
Bibliografia:
GOMES-PEDRO, João. O que é ser criança: Da genética ao comportamento. Aná. Psicológica. [online]. mar. 2004, vol.22, no.1 [citado 11 Maio 2009], p.33-42. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312004000100004&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0870-8231.
GOUVEIA-PEREIRA, Maria, PEDRO, Isaura, AMARAL, Virgílio et al. Dinâmicas grupais na adolescência. Aná. Psicológica. [online]. jun. 2000, vol.18, no.2 [citado 11 Maio 2009], p.191-201. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312000000200005&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0870-8231.
MARTINS, Maria José D. Condutas agressivas na adolescência: Factores de risco e de protecção. Aná. Psicológica. [online]. abr. 2005, vol.23, no.2 [citado 11 Maio 2009], p.129-135. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312005000200005&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0870-8231.
RESGATE, Isabel. Diversidade e comportamentos juvenis: um estudo dos estilos de vida de jovens de origens étnico-culturais diferenciadas em Portugal. Aná. Psicológica. [online]. jul. 2001, vol.19, no.3 [citado 06 Maio 2009], p.345-364. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312001000300001&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0870-8231.
Todos os sites acedidos pela última vez em 11 de Maio de 2009.