sábado, 13 de junho de 2009

A Aprendizagem na Idade Adulta – O Meu Percurso


Decidi voltar a estudar porque, infelizmente, a minha ocupação laboral não me realiza intelectualmente e é bastante rotineira e até desmotivadora. Comecei a sentir-me estagnada e com muita vontade de aprender e conhecer coisas novas, que trouxessem outro sentido à minha vida. Na altura em que terminei o secundário, tive pressa de me tornar independente e de entrar na fase adulta. Comecei a trabalhar e passados mais de 10 anos cá estou eu a olhar para trás a questionar-me: se eu tivesse prosseguido com os estudos, o que seria diferente agora? Sinceramente, não sei responder a esta questão. Mas sei que naquela altura não me sentia preparada para avançar com os estudos. Vejo, hoje, que não tinha maturidade suficiente e que independentemente do curso pelo qual optasse, não iria ter o significado e a importância que hoje representa para mim. Agora, com família constituída e actividade profissional a tempo inteiro, sou mãe e esposa (e adoro!), sou uma trabalhadora precária e uma estudante muito empenhada.

No meu caso, toda esta dinâmica de experiência de aprendizagem formal aliada à minha experiência profissional e familiar/emocional tem sido bastante positiva e promotora do meu processo de maturação (Merriam & Clark, cit. in Valadares, 2007). As minhas vivências quotidianas têm agora outro significado e dão mais sentido às aprendizagens formais. Compreendo melhor o outro, as minhas atitudes face a questões do dia-a-dia são agora muito mais reflectidas e melhorei e adquiri uma série de novas aptidões. Como tal, posso também afirmar, que as aprendizagens formais têm dado todo o sentido às minhas experiências do dia-a-dia.

Parece uma contradição, mas não é. Esta teoria baseia-se em abordagens construtivistas do conhecimento e de competências evidenciando o carácter socialmente construído dos saberes. Não se trata apenas de aquisição de conhecimentos, trata-se de contextualizar os conhecimentos adquiridos de forma a dar-lhes significado. Se a aprendizagem não é significante, não lhe vou atribuir o mesmo significado ou a mesma importância. Mas se a aprendizagem é provida de significado coerente para mim, pode alterar completamente a minha forma de pensar até aí, mudar as minhas convicções ou até a minha personalidade.

E é o que está realmente a acontecer! Sinto-me uma pessoa diferente, com mais capacidades cognitivas, pessoais, sociais… Sempre que estou a desenvolver o meu estudo, é rara a vez que não divago sobre as minhas experiências passadas, reflicto sobre o presente e/ou perspectivo o futuro. A intencionalidade da minha aprendizagem prende-se com questões do meu próprio desenvolvimento e da minha personalidade. Ainda bem que decidi voltar a estudar!

Bibliografia:
Valadares, J. et al.(2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora.

Imagem Social Generalizada Face à Velhice e a Relação com o Conceito de Sabedoria

A velhice não é vista de forma positiva nas sociedades contemporâneas. Existe muito preconceito no que se relaciona com esta fase da vida que a todos nos aguarda. O velho é visto e sentido como um ser que já não é capaz de produzir, como um inútil. A velhice é, segundo a nossa sociedade, uma fase de involução e deterioração na qual as capacidades físicas, cognitivas e emocionais diminuem (Valadares et al, 2007). Segundo Patrícia Matos, a velhice é agora encarada como um doença social associada a factores como «(…) a reforma, o desaparecimento da família nuclear, o impacto da industrialização e da urbanização, o aumento dos índices de mobilidade demográfica e social» (Philipson & Evers cit. in Matos, 2004), o que torna os velhos dependentes de uma sociedade que os marginaliza, que não dá valor às suas experiências de vida e que os institucionaliza despejando-os em lares para idosos.

Esta visão da velhice é completamente preconceituosa até porque sendo uma visão generalizada não contempla o individuo particularmente. A velhice não é sentida por todos da mesma forma, nem atinge todos da mesma maneira, uns sentem-se velhos mais cedo do que outros independentemente da idade que têm. Este período da vida pode ser propício a que algumas capacidades entrem em regressão, mas existem muitas outras que se podem adquirir e desenvolver. Por exemplo, na aprendizagem. Desde que o conteúdo da aprendizagem seja significante para o indivíduo, o significado é rapidamente assimilado e compreendido.

Com a esperança de vida mais alargada, entrada na reforma cada vez mais tarde e o crescente envelhecimento da população, as sociedades contemporâneas não se devem rever no preconceito em relação à velhice ou em qualquer outro. Os velhos têm muita experiência de vida e muito para nos ensinar. Continuarão a ser pessoas providas de sentimentos e de capacidades, quaisquer que sejam. Por isso, e por muito mais, merecem o respeito da sociedade e merecem ser tratados com dignidade.

O preconceito que as sociedades contemporâneas demonstram ter face às pessoas idosas não está minimamente interligado com o conceito de sabedoria, antes pelo contrário. Logicamente que os valores adoptados pelas sociedades caracterizam a maioria das pessoas que delas faz parte, mas não todas as pessoas. No entanto, existe, de facto, uma imagem negativa generalizada e enraizada nas sociedades industrializadas face à velhice que não podemos negar.

A sabedoria é caracterizada por competências não apenas cognitivas, mas também afectivas, sociais, particulares e até espirituais, embora nem todos os autores considerem a sabedoria sob esta perspectiva multidimensional (Marchand, 2001). Hoje, sabe-se que a sabedoria é bastante difícil de alcançar. Não basta apenas deter vastos conhecimentos factuais e processuais da vida, há que saber relacioná-los de acordo com vários factores – contextualização dos acontecimentos, respeito e valorização da diversidade, aceitação de que nunca se conhece tudo nem há verdades absolutas.

Assistimos, não raras vezes, a situações protagonizadas por pessoas com um elevado grau académico que se julgam superiores aos outros e por vezes até se sentem no direito de maltratar o outro psicologicamente. É indiscutível que estas pessoas são inteligentes, mas não são sages. Se o fossem, não maltratariam o outro, mas pelo contrário, tentariam ajudar. Penso que é um pouco dentro deste âmbito, simbolicamente, que a sociedade se enquadra. A nossa sociedade é tão desenvolvida e ao mesmo tempo tão preconceituosa. Alcançámos feitos e fizemos descobertas nunca antes sequer imaginados. Mas vivemos numa sociedade muito materialista e muito pouco altruísta. A imagem negativa relativa à velhice, é apenas um dos muitos preconceitos com que nos deparamos no nosso dia-a-dia.

Os que são sages têm prazer em ajudar, em partilhar, em aconselhar, em ensinar e em aprender e possuem uma grande capacidade de resiliência para lidar e resolver problemas quotidianos complexos e deficientemente estruturados. A sabedoria pressupõe também factores como a comunicação, a experiência, as dimensões da personalidade que facilitam e possibilitam a compreensão do outro (Marchand, 2001).


Bibliografia:

Marchand, H. (2001). A Sabedoria (excerto do texto). Unidade Curricular Psicologia do Desenvolvimento – UAb.
Matos, Patrícia (2004). Ser-se mais do que velho: tempo, memória e velhice no contexto de um Lar.Coimbra: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais.
Valadares, J. et al.(2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora.