
Decidi voltar a estudar porque, infelizmente, a minha ocupação laboral não me realiza intelectualmente e é bastante rotineira e até desmotivadora. Comecei a sentir-me estagnada e com muita vontade de aprender e conhecer coisas novas, que trouxessem outro sentido à minha vida. Na altura em que terminei o secundário, tive pressa de me tornar independente e de entrar na fase adulta. Comecei a trabalhar e passados mais de 10 anos cá estou eu a olhar para trás a questionar-me: se eu tivesse prosseguido com os estudos, o que seria diferente agora? Sinceramente, não sei responder a esta questão. Mas sei que naquela altura não me sentia preparada para avançar com os estudos. Vejo, hoje, que não tinha maturidade suficiente e que independentemente do curso pelo qual optasse, não iria ter o significado e a importância que hoje representa para mim. Agora, com família constituída e actividade profissional a tempo inteiro, sou mãe e esposa (e adoro!), sou uma trabalhadora precária e uma estudante muito empenhada.
No meu caso, toda esta dinâmica de experiência de aprendizagem formal aliada à minha experiência profissional e familiar/emocional tem sido bastante positiva e promotora do meu processo de maturação (Merriam & Clark, cit. in Valadares, 2007). As minhas vivências quotidianas têm agora outro significado e dão mais sentido às aprendizagens formais. Compreendo melhor o outro, as minhas atitudes face a questões do dia-a-dia são agora muito mais reflectidas e melhorei e adquiri uma série de novas aptidões. Como tal, posso também afirmar, que as aprendizagens formais têm dado todo o sentido às minhas experiências do dia-a-dia.
Parece uma contradição, mas não é. Esta teoria baseia-se em abordagens construtivistas do conhecimento e de competências evidenciando o carácter socialmente construído dos saberes. Não se trata apenas de aquisição de conhecimentos, trata-se de contextualizar os conhecimentos adquiridos de forma a dar-lhes significado. Se a aprendizagem não é significante, não lhe vou atribuir o mesmo significado ou a mesma importância. Mas se a aprendizagem é provida de significado coerente para mim, pode alterar completamente a minha forma de pensar até aí, mudar as minhas convicções ou até a minha personalidade.
E é o que está realmente a acontecer! Sinto-me uma pessoa diferente, com mais capacidades cognitivas, pessoais, sociais… Sempre que estou a desenvolver o meu estudo, é rara a vez que não divago sobre as minhas experiências passadas, reflicto sobre o presente e/ou perspectivo o futuro. A intencionalidade da minha aprendizagem prende-se com questões do meu próprio desenvolvimento e da minha personalidade. Ainda bem que decidi voltar a estudar!
Bibliografia:
Valadares, J. et al.(2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora.