
Esta visão da velhice é completamente preconceituosa até porque sendo uma visão generalizada não contempla o individuo particularmente. A velhice não é sentida por todos da mesma forma, nem atinge todos da mesma maneira, uns sentem-se velhos mais cedo do que outros independentemente da idade que têm. Este período da vida pode ser propício a que algumas capacidades entrem em regressão, mas existem muitas outras que se podem adquirir e desenvolver. Por exemplo, na aprendizagem. Desde que o conteúdo da aprendizagem seja significante para o indivíduo, o significado é rapidamente assimilado e compreendido.
Com a esperança de vida mais alargada, entrada na reforma cada vez mais tarde e o crescente envelhecimento da população, as sociedades contemporâneas não se devem rever no preconceito em relação à velhice ou em qualquer outro. Os velhos têm muita experiência de vida e muito para nos ensinar. Continuarão a ser pessoas providas de sentimentos e de capacidades, quaisquer que sejam. Por isso, e por muito mais, merecem o respeito da sociedade e merecem ser tratados com dignidade.
O preconceito que as sociedades contemporâneas demonstram ter face às pessoas idosas não está minimamente interligado com o conceito de sabedoria, antes pelo contrário. Logicamente que os valores adoptados pelas sociedades caracterizam a maioria das pessoas que delas faz parte, mas não todas as pessoas. No entanto, existe, de facto, uma imagem negativa generalizada e enraizada nas sociedades industrializadas face à velhice que não podemos negar.
A sabedoria é caracterizada por competências não apenas cognitivas, mas também afectivas, sociais, particulares e até espirituais, embora nem todos os autores considerem a sabedoria sob esta perspectiva multidimensional (Marchand, 2001). Hoje, sabe-se que a sabedoria é bastante difícil de alcançar. Não basta apenas deter vastos conhecimentos factuais e processuais da vida, há que saber relacioná-los de acordo com vários factores – contextualização dos acontecimentos, respeito e valorização da diversidade, aceitação de que nunca se conhece tudo nem há verdades absolutas.
Assistimos, não raras vezes, a situações protagonizadas por pessoas com um elevado grau académico que se julgam superiores aos outros e por vezes até se sentem no direito de maltratar o outro psicologicamente. É indiscutível que estas pessoas são inteligentes, mas não são sages. Se o fossem, não maltratariam o outro, mas pelo contrário, tentariam ajudar. Penso que é um pouco dentro deste âmbito, simbolicamente, que a sociedade se enquadra. A nossa sociedade é tão desenvolvida e ao mesmo tempo tão preconceituosa. Alcançámos feitos e fizemos descobertas nunca antes sequer imaginados. Mas vivemos numa sociedade muito materialista e muito pouco altruísta. A imagem negativa relativa à velhice, é apenas um dos muitos preconceitos com que nos deparamos no nosso dia-a-dia.
Os que são sages têm prazer em ajudar, em partilhar, em aconselhar, em ensinar e em aprender e possuem uma grande capacidade de resiliência para lidar e resolver problemas quotidianos complexos e deficientemente estruturados. A sabedoria pressupõe também factores como a comunicação, a experiência, as dimensões da personalidade que facilitam e possibilitam a compreensão do outro (Marchand, 2001).
Bibliografia:
Marchand, H. (2001). A Sabedoria (excerto do texto). Unidade Curricular Psicologia do Desenvolvimento – UAb.
Matos, Patrícia (2004). Ser-se mais do que velho: tempo, memória e velhice no contexto de um Lar.Coimbra: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais.
Valadares, J. et al.(2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora.
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