terça-feira, 31 de março de 2009

«Filho de Peixe Sabe Nadar»



O que quer isto dizer? Será mesmo verdade?

Este é um ditado popular muito conhecido e que poderá ser substituído por outros que têm uma conotação similar, como por exemplo, «Tal pai, tal filho», «Quem sai aos seus não degenera», etc. Tal como outros ditados populares, este representa também um estereótipo de comportamentos pessoais baseado nas crenças e tradições da sociedade onde nos inserimos. «Filho de peixe sabe nadar» tem uma mensagem implícita que se refere ao factor da hereditariedade estabelecido no comportamento humano dos indivíduos. Logicamente, este "saber" não está fundamentado cientificamente e, tal como o nome indica, é um ditado popular, e, portanto, subjectivo, baseado em conhecimentos empíricos, generalizações, avaliações não rigorosas e não está sujeito a qualquer tipo de verificação experimental. Neste caso em concreto, esta observação que nos é dada a conhecer através deste provérbio, poderá conter alguma, muito pouca, informação científica, melhor dizendo, com interesse científico, mas sem o rigor que a ele está associado.

Os estudos realizados sobre a hereditariedade devem ser inúmeros e esta pode manifestar-se através de características físicas e/ou psicológicas. No caso deste provérbio, é notório que se está a referir a comportamentos e não a aspectos físicos do ser humano contemplando apenas a ontogénese e não a filogénese. Trata-se supostamente de uma aptidão inata transmitida através dos genes do genitor ou da genetriz ao seu descendente. Este poderia ser um dos casos em que as teorias implícitas dão origem às teorias explícitas, na medida em que esta frase permitiria potenciar uma investigação científica para determinar, por exemplo, se a hereditariedade é o único factor da qual deriva a inteligência.

No entanto, este exemplo que escolhi, também se enquadra perfeitamente na teoria do dom natural, que tem a inteligência como um acontecimento perfeitamente desconhecido, inato, natural, exclusivamente biológico e hereditário. Esta teoria opõe-se ao paradigma construtivista que defende que a inteligência se vai desenvolvendo e formando através da interacção com o meio ambiente e com os outros, sendo este processo fortemente influenciado pela sociedade, pela cultura, pela família e pela educação. A utilização do provérbio pode significar, o que infelizmente ainda acontece tanto na nossa sociedade, que os pais escolhem o futuro profissional dos seus filhos muitas vezes de acordo com a sua ocupação laboral, especialmente no que se refere a profissões, consideradas pela sociedade, de grande prestígio como médicos, advogados, economistas, etc. Pode significar também o oposto: O facto de a mãe ou o pai desenvolverem uma determinada actividade pode incentivar, ainda que não intencionalmente, o gosto da criança ou jovem por essa mesma actividade. Até se poderiam enunciar as mesmas profissões referidas anteriormente, neste caso escolhidas pelos jovens e não impostas pelos pais. Este provérbio pode, então, ter uma conotação positiva ou negativa consoante os valores da pessoa que constata tal comportamento. Claro que esta constatação não tem qualquer carácter de origem científica, apenas uma origem empírica e que como tal, em qualquer dos casos em cima exemplificados, pode ou não estar correcta. Se a inteligência fosse realmente inata, excluir-se-iam à partida uma série de pessoas cuja inteligência ou aptidões se manifestam de forma diferente do tipo de inteligência que está concebido no seio da nossa sociedade como a "verdadeira inteligência". Pessoas que se distinguem por serem brilhantes, em matemática ou informática, por exemplo, enquanto pessoas com outro tipo de aptidões para a música, o artesanato, o desporto, etc. não teriam, à partida, as mesmas oportunidades por não serem "tão inteligentes".

Este tipo de saber popular, pode permanecer inabalável durante décadas ou até séculos pois é desprovido de rigor científico e tem um carácter muito abrangente, não se cinge a casos especificamente determinados, ao contrário do que acontece com factos observáveis através da ciência, que devido às várias experimentações que se vão realizando ao longo do tempo, podem deitar por terra algumas teorias anteriormente definidas e tomadas como certas e irrefutáveis. Esta será a grande diferença entre juízos críticos fundamentados cientificamente e juízos acríticos baseados apenas no senso comum.

«Filho de peixe sabe nadar» é, como todos os outros provérbios e dizeres populares, característica da nossa sociedade, da nossa cultura, das nossas relações sociais e que com certeza veio para ficar durante muitos mais séculos.

Bibliografia:

Teorias Implícitas Sobre o Desenvolvimento: Tema 1. (2009). Universidade Aberta.

domingo, 29 de março de 2009

A Psicologia do Desenvolvimento e a Educação ao Longo da Vida


De que forma se relacionam a Psicologia do Desenvolvimento e a Educação ao longo da Vida?

A Psicologia do Desenvolvimento estuda a génese e as mudanças psicológicas que ocorrem ao longo da vida dos seres humanos. Quando a Psicologia do Desenvolvimento tenta compreender como funciona o processo de mudança, o comportamento e os processos mentais que ocorrem ao longo de toda a vida do ser humano, verifica que todos estes factores são o que compõem o desenvolvimento humano. Este é um processo contínuo de mudanças ao nível psicológico que está dotado de uma grande plasticidade e flexibilidade.

Ora, a Educação ao longo da vida não é mais do que um processo de construção contínua do ser humano em termos de aprendizagens no que respeita à tomada de consciência de si próprio, do outro e do mundo que o rodeia e que tem «vantagens em matéria de flexibilidade, diversidade e acessibilidade, no tempo e no espaço.» (Delors, 1996:18) Esta é uma aposta em termos de aprendizagem pessoal e profissional capaz de fazer face a um mundo em constante transformação. Isto é, o ser humano sofre mudanças a nível interno, mas o seu comportamento e o seu desenvolvimento estão também sujeitos às mudanças exteriores do meio ambiente. A Educação ao longo da vida vem propor uma adaptação constante do homem às exigências do nosso mundo.

A compreensão do ser humano passa pela relação consigo próprio, pela relação com os outros e com o mundo. Este é o objecto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento e é o objectivo proposto pela Educação ao longo da vida de forma a facilitar a compreensão do mundo através das relações que ligam o ser humano ao meio ambiente, baseando-se na compreensão de si próprio e dos outros, no respeito pela diversidade que a todos nos caracteriza. A Educação ao longo da vida faculta também a possibilidade de um desenvolvimento harmonioso e contínuo dos seres humanos. Este conceito assenta nos quatro pilares da educação:


1. Aprender a conhecer;

2. Aprender a fazer;

3. Aprender a viver com os outros;

4. aprender a ser.


Aprender a conhecer: É dotar os indivíduos da capacidade de aprender e de conhecer o nosso mundo para que possam viver dignamente, aumentar os seus conhecimentos, desenvolver o sentido crítico e a autonomia. É impossível uma pessoa conseguir conhecer tudo o que há para conhecer porque o conhecimento é um processo que nunca termina, está sempre em construção, em desenvolvimento, para além de que ajuda a melhorar o pensamento, a atenção e a memória.

Aprender a fazer: Este conceito está intimamente ligado com o conceito anterior, sendo que este está mais relacionado com a teoria posta em prática, com o pôr em prática os conhecimentos adquiridos. Aprender a fazer aparece mais ligado à questão da formação profissional.

Aprender a viver juntos: Este será, talvez, o grande paradigma da nossa sociedade e tem como objectivo acabar com qualquer tipo de hostilidade através do conhecimento e da compreensão do outro baseando-se na cooperação. É importante conhecer a diversidade que caracteriza todos os seres humanos. A compreensão de nós próprios passa necessariamente pela descoberta do outro.

Aprender a ser: O objectivo principal desta aprendizagem é o desenvolvimento do ser humano em toda a sua plenitude. «(...)a educação é antes de mais nada uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade.» (Delors, 1996:101) Aprender a ser é desenvolver continuamente a personalidade, a responsabilidade, a autonomia e a capacidade de discernimento. Todas as aptidões do indivíduo são exploradas ao mesmo tempo que se desenvolvem certas capacidades como a reflexão, a memória, a comunicação, etc.

Estes quatro pilares da educação relacionam-se com o desenvolvimento humano e consequentemente com o objecto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento. As semelhanças de conteúdo das curtas descrições feitas anteriormente acerca da Psicologia do Desenvolvimento e da Educação ao longo de toda a vida estão, quanto a mim, bem patentes. A relação com o mundo e com os outros, as várias etapas de maturação da personalidade ao longo da vida, o desenvolvimento cognitivo e das capacidades de cada um, o reconhecimento da igualdade de todos e da diversidade de cada um... Os exemplos não se esgotam aqui. A Educação ao longo da vida enquadra-se perfeitamente no objecto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento, no que diz respeito ao desenvolvimento humano em todas as suas vertentes e dimensões.

Bibliografia:

Delors, Jacques. (1996). Educação Um Tesouro a Descobrir- Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI. São Paulo: Edições ASA/Cortez

Teorias Implícitas Sobre o Desenvolvimento: Tema 1. (2009). Universidade Aberta.

5 Perguntas Importantes Sobre o Desenvolvimento Humano



Tendo como ponto de partida a educação dos seres humanos, torna-se importante formular algumas questões, cujas respostas nos ajudarão a saber um pouco mais sobre o nosso próprio desenvolvimento.
São elas:

1. Que factores mais influenciam o desenvolvimento humano - a hereditariedade (factores inatos) ou a interacção com o meio ambiente (factores adquiridos)?

2. O desenvolvimento humano é um processo caracterizado pela continuidade (mudanças quantitativas) ou pela descontinuidade (mudanças qualitativas)?

3. O processo de desenvolvimento nos seres humanos caracteriza-se mais por factores internos (ligados à sua biologia, pensamentos e emoções) ou a factores externos (como a socialização ou a cultura)?

4. O desenvolvimento humano pode ser considerado um processo estável ou, pelo contrário, um processo em constante mudança?

5. O desenvolvimento humano contribui para a educação da mesma forma que a educação contribui para o desenvolvimento humano?

Penso que em qualquer umas das perguntas enunciadas, as duas hipóteses nelas referidas são possíveis, melhor, interrelacionam-se. É difícil quantificar exactamente em que medida se relacionam, mas sendo o desenvolvimento humano um processo dinâmico e construtivista depende tanto de factores inatos como adquiridos, de factores internos e externos, umas vezes mais contínuo outras mais descontínuo, umas vezes mais estável outras mais propício à mudança, e que contribui para a educação de tal forma que sem o seu contributo a educação não era realizável da mesma forma que sem a educação o ser humano também não se realizaria...

Bibliografia:

Teorias Implícitas Sobre o Desenvolvimento: Tema 1. (2009). Universidade Aberta