
O que quer isto dizer? Será mesmo verdade?
Este é um ditado popular muito conhecido e que poderá ser substituído por outros que têm uma conotação similar, como por exemplo, «Tal pai, tal filho», «Quem sai aos seus não degenera», etc. Tal como outros ditados populares, este representa também um estereótipo de comportamentos pessoais baseado nas crenças e tradições da sociedade onde nos inserimos. «Filho de peixe sabe nadar» tem uma mensagem implícita que se refere ao factor da hereditariedade estabelecido no comportamento humano dos indivíduos. Logicamente, este "saber" não está fundamentado cientificamente e, tal como o nome indica, é um ditado popular, e, portanto, subjectivo, baseado em conhecimentos empíricos, generalizações, avaliações não rigorosas e não está sujeito a qualquer tipo de verificação experimental. Neste caso em concreto, esta observação que nos é dada a conhecer através deste provérbio, poderá conter alguma, muito pouca, informação científica, melhor dizendo, com interesse científico, mas sem o rigor que a ele está associado.
Os estudos realizados sobre a hereditariedade devem ser inúmeros e esta pode manifestar-se através de características físicas e/ou psicológicas. No caso deste provérbio, é notório que se está a referir a comportamentos e não a aspectos físicos do ser humano contemplando apenas a ontogénese e não a filogénese. Trata-se supostamente de uma aptidão inata transmitida através dos genes do genitor ou da genetriz ao seu descendente. Este poderia ser um dos casos em que as teorias implícitas dão origem às teorias explícitas, na medida em que esta frase permitiria potenciar uma investigação científica para determinar, por exemplo, se a hereditariedade é o único factor da qual deriva a inteligência.
No entanto, este exemplo que escolhi, também se enquadra perfeitamente na teoria do dom natural, que tem a inteligência como um acontecimento perfeitamente desconhecido, inato, natural, exclusivamente biológico e hereditário. Esta teoria opõe-se ao paradigma construtivista que defende que a inteligência se vai desenvolvendo e formando através da interacção com o meio ambiente e com os outros, sendo este processo fortemente influenciado pela sociedade, pela cultura, pela família e pela educação. A utilização do provérbio pode significar, o que infelizmente ainda acontece tanto na nossa sociedade, que os pais escolhem o futuro profissional dos seus filhos muitas vezes de acordo com a sua ocupação laboral, especialmente no que se refere a profissões, consideradas pela sociedade, de grande prestígio como médicos, advogados, economistas, etc. Pode significar também o oposto: O facto de a mãe ou o pai desenvolverem uma determinada actividade pode incentivar, ainda que não intencionalmente, o gosto da criança ou jovem por essa mesma actividade. Até se poderiam enunciar as mesmas profissões referidas anteriormente, neste caso escolhidas pelos jovens e não impostas pelos pais. Este provérbio pode, então, ter uma conotação positiva ou negativa consoante os valores da pessoa que constata tal comportamento. Claro que esta constatação não tem qualquer carácter de origem científica, apenas uma origem empírica e que como tal, em qualquer dos casos em cima exemplificados, pode ou não estar correcta. Se a inteligência fosse realmente inata, excluir-se-iam à partida uma série de pessoas cuja inteligência ou aptidões se manifestam de forma diferente do tipo de inteligência que está concebido no seio da nossa sociedade como a "verdadeira inteligência". Pessoas que se distinguem por serem brilhantes, em matemática ou informática, por exemplo, enquanto pessoas com outro tipo de aptidões para a música, o artesanato, o desporto, etc. não teriam, à partida, as mesmas oportunidades por não serem "tão inteligentes".
Este tipo de saber popular, pode permanecer inabalável durante décadas ou até séculos pois é desprovido de rigor científico e tem um carácter muito abrangente, não se cinge a casos especificamente determinados, ao contrário do que acontece com factos observáveis através da ciência, que devido às várias experimentações que se vão realizando ao longo do tempo, podem deitar por terra algumas teorias anteriormente definidas e tomadas como certas e irrefutáveis. Esta será a grande diferença entre juízos críticos fundamentados cientificamente e juízos acríticos baseados apenas no senso comum.
«Filho de peixe sabe nadar» é, como todos os outros provérbios e dizeres populares, característica da nossa sociedade, da nossa cultura, das nossas relações sociais e que com certeza veio para ficar durante muitos mais séculos.
Bibliografia:
Teorias Implícitas Sobre o Desenvolvimento: Tema 1. (2009). Universidade Aberta.
Este é um ditado popular muito conhecido e que poderá ser substituído por outros que têm uma conotação similar, como por exemplo, «Tal pai, tal filho», «Quem sai aos seus não degenera», etc. Tal como outros ditados populares, este representa também um estereótipo de comportamentos pessoais baseado nas crenças e tradições da sociedade onde nos inserimos. «Filho de peixe sabe nadar» tem uma mensagem implícita que se refere ao factor da hereditariedade estabelecido no comportamento humano dos indivíduos. Logicamente, este "saber" não está fundamentado cientificamente e, tal como o nome indica, é um ditado popular, e, portanto, subjectivo, baseado em conhecimentos empíricos, generalizações, avaliações não rigorosas e não está sujeito a qualquer tipo de verificação experimental. Neste caso em concreto, esta observação que nos é dada a conhecer através deste provérbio, poderá conter alguma, muito pouca, informação científica, melhor dizendo, com interesse científico, mas sem o rigor que a ele está associado.
Os estudos realizados sobre a hereditariedade devem ser inúmeros e esta pode manifestar-se através de características físicas e/ou psicológicas. No caso deste provérbio, é notório que se está a referir a comportamentos e não a aspectos físicos do ser humano contemplando apenas a ontogénese e não a filogénese. Trata-se supostamente de uma aptidão inata transmitida através dos genes do genitor ou da genetriz ao seu descendente. Este poderia ser um dos casos em que as teorias implícitas dão origem às teorias explícitas, na medida em que esta frase permitiria potenciar uma investigação científica para determinar, por exemplo, se a hereditariedade é o único factor da qual deriva a inteligência.
No entanto, este exemplo que escolhi, também se enquadra perfeitamente na teoria do dom natural, que tem a inteligência como um acontecimento perfeitamente desconhecido, inato, natural, exclusivamente biológico e hereditário. Esta teoria opõe-se ao paradigma construtivista que defende que a inteligência se vai desenvolvendo e formando através da interacção com o meio ambiente e com os outros, sendo este processo fortemente influenciado pela sociedade, pela cultura, pela família e pela educação. A utilização do provérbio pode significar, o que infelizmente ainda acontece tanto na nossa sociedade, que os pais escolhem o futuro profissional dos seus filhos muitas vezes de acordo com a sua ocupação laboral, especialmente no que se refere a profissões, consideradas pela sociedade, de grande prestígio como médicos, advogados, economistas, etc. Pode significar também o oposto: O facto de a mãe ou o pai desenvolverem uma determinada actividade pode incentivar, ainda que não intencionalmente, o gosto da criança ou jovem por essa mesma actividade. Até se poderiam enunciar as mesmas profissões referidas anteriormente, neste caso escolhidas pelos jovens e não impostas pelos pais. Este provérbio pode, então, ter uma conotação positiva ou negativa consoante os valores da pessoa que constata tal comportamento. Claro que esta constatação não tem qualquer carácter de origem científica, apenas uma origem empírica e que como tal, em qualquer dos casos em cima exemplificados, pode ou não estar correcta. Se a inteligência fosse realmente inata, excluir-se-iam à partida uma série de pessoas cuja inteligência ou aptidões se manifestam de forma diferente do tipo de inteligência que está concebido no seio da nossa sociedade como a "verdadeira inteligência". Pessoas que se distinguem por serem brilhantes, em matemática ou informática, por exemplo, enquanto pessoas com outro tipo de aptidões para a música, o artesanato, o desporto, etc. não teriam, à partida, as mesmas oportunidades por não serem "tão inteligentes".
Este tipo de saber popular, pode permanecer inabalável durante décadas ou até séculos pois é desprovido de rigor científico e tem um carácter muito abrangente, não se cinge a casos especificamente determinados, ao contrário do que acontece com factos observáveis através da ciência, que devido às várias experimentações que se vão realizando ao longo do tempo, podem deitar por terra algumas teorias anteriormente definidas e tomadas como certas e irrefutáveis. Esta será a grande diferença entre juízos críticos fundamentados cientificamente e juízos acríticos baseados apenas no senso comum.
«Filho de peixe sabe nadar» é, como todos os outros provérbios e dizeres populares, característica da nossa sociedade, da nossa cultura, das nossas relações sociais e que com certeza veio para ficar durante muitos mais séculos.
Bibliografia:
Teorias Implícitas Sobre o Desenvolvimento: Tema 1. (2009). Universidade Aberta.