domingo, 23 de agosto de 2009

Análise da relação pedagógica apresentada numa obra de ficção


A obra que vou analisar é o filme “Freedom Writers” (2007), traduzido para português com o título “Páginas de Liberdade”, realizado por Richard Lagravenese e produzido por Danny Devito nos Estúdios Paramount nos Estados Unidos da América. O filme é baseado em acontecimentos verídicos e conta a história da professora Erin Gruwell e a relação pedagógica que desenvolve com os seus alunos, acreditando sempre neles quando mais ninguém o fez.


O que esta professora conseguiu foi essencialmente fazer com que os seus alunos, jovens provenientes de bairros sociais degradados que cresceram no meio de violência e rivalidades raciais e culturais, aceitassem e compreendessem as suas diferenças. Estes jovens tinham já interiorizado os preconceitos das suas comunidades, não tendo sido fácil aceitarem as diferenças uns dos outros. Existia, no entanto, um outro tipo de preconceito: estes jovens eram estereotipados como incapazes, não aptos, anti-sociais, estavam inclusivamente integrados em salas de aula especiais para a sua “categoria”. Eram marginalizados pela sociedade e pela própria escola. Esta professora transmitiu-lhes conhecimentos teóricos e práticos, mas principalmente ajudou os seus alunos a ser. Ajudou a conhecer e a compreender o outro e, assim, conhecer-se também a si próprio. Não só a professora acreditou nos seus alunos, como estes passaram a acreditar em si próprios. Tal como afirmou Lao-Tse, citado por Patrício e Sebastião, 2004: « Quem conhece os outros é sábio. Quem se conhece a si próprio, é perfeito».


No filme, consegue perceber-se que a Prof.ª Erin Gruwell, papel interpretado por Hilary Swank, utilizou uma estratégia educativa de cooperação. Embora tenha sido bastante difícil implementar uma educação baseada na cooperação (e estou a referir-me à ficção porque a realidade deve ter sido, com toda a certeza, bastante mais complicada do que aquilo a que assistimos durante o filme) o objectivo pedagógico foi cumprido. «Ensinar é (…) ainda mais difícil do que aprender» (Martin Heidegger cit. Patrício & Sebastião, 2004:114). Para além destes jovens terem interiorizados valores democráticos como a solidariedade, a justiça social, a tolerância, a valorização das diferenças, etc., também, na maioria dos casos, foram os primeiros nas suas famílias a terminar o ensino secundário ou universitário. Estes jovens apenas viviam, mas não existiam. «Viver é um acontecimento biológico. Existir é um acontecimento metafísico e religioso» (Patrício & Sebastião, 2004:68). É importante perceber que estes jovens descobriram o caminho da realização plena, caminho esse que também vai ser mostrado às suas famílias, às suas comunidades, à própria sociedade. Estes jovens irão com certeza tornar o mundo um pouco melhor. «(…) gosto da vida, junto com a dignidade própria. Se não posso assegurá-las ambas, sacrifico a vida pela dignidade própria» (Mâncio cit. Patrício & Sebastião, 2004:79). É este o sentido da existência para o homem: conhecer e reger a sua existência segundo valores morais.


É também interessante verificar como a personagem Margaret Campbell, interpretada por Imelda Staunton, retrata a posição tradicionalista do ensino que ainda hoje está presente nas nossas escolas. Transmissão de conhecimentos, presunção de que todos aprendem da mesma maneira independentemente das características pessoais, das aptidões e capacidades, das dificuldades, … «A vantagem de um ensino nada atraente e da acção que não se impõe, raros são no mundo os que a alcançam» (Lao-Tse cit. Patrício & Sebastião, 2004:81).


Para além de ser, o homem tem de saber estar. Estar bem consigo próprio, estar bem com os outros, estar bem com o mundo. A acção é o que caracteriza o ser humano enquanto tal, o homem precisa de saber quem é, precisa de se conhecer. A acção é irreversível: o que está feito, feito está! Por isso, a acção também é perene. Tudo o que o homem faz afecta o cosmos, afecta a comunidade. Nada é desprovido de valor e de sentido. É desta forma que a acção da Prof.ª Erin Grunwell afectou o cosmos, com certeza inspirou muitas pessoas a utilizarem métodos e estratégias educativos e pedagógicos de tal forma que nos dias de hoje conhecemos a sua história (foi o meu caso) retratada num filme que percorreu todo o mundo. Afectou também a comunidade. Se não fosse ela, aqueles jovens provavelmente nunca teriam hipótese de conseguir saber ser e estar, de existir, de conhecer. Talvez outros tivessem oportunidade, mas não aqueles. Uma vez a acção efectuada torna-se irreversível. O seu efeito permanece enquanto perdurar a memória da acção, das suas consequências.


O professor deve dominar os conhecimentos necessários à formação do aluno. Embora durante um largo período de tempo se acreditasse que o domínio de determinados conhecimentos era o bastante para se ser professor, hoje sabe-se que não é assim. Um professor eficaz deve procurar interessar os alunos pela matéria que lecciona, mas acima de tudo o professor tem a responsabilidade de formar cidadãos activos e com discernimento (Delors, 1996). Ensinar e educar têm conotações diferentes. Ensinar é instruir, é dar a conhecer, é informar. Educar formar o ser humano e a sua personalidade, é ajudar o educando na procura do seu caminho e orientá-lo no seu percurso e prepará-lo para o mundo exterior. É de uma importância vital que o professor conheça os seus alunos, conheça as suas origens, conheça o seu ambiente socioeconómico, as suas capacidades, as suas aptidões, as suas dificuldades. O professor eficaz deve, então, ser dotado não só de sabedoria, de conhecimento empírico, didáctico, psicológico e social.


No filme, é notório que a Prof.ª Erin Grunwell (Hillary Swank) utiliza várias vezes o conhecimento empírico. Encontra vários exemplos históricos que os alunos não aprovam (como por exemplo o holocausto) nos quais os alunos se começam a rever. O ódio, o racismo, a violência, a frieza… Como se revêem neste tipo de sentimentos e acontecimentos os alunos começam a desenvolver a capacidade de comparar as duas realidades e compreender que se está a passar o mesmo com eles, embora de uma forma não tão significativa para o mundo, mas sim para as suas comunidades. Assim, começa a utilizar o conhecimento filosófico na formação dos seus alunos enquanto seres humanos. Incute neles, através de actividades cooperativas, o reconhecimento, a aceitação e a valorização das diferenças de cada um. Os alunos começam a formar novos valores. Sem dúvida nenhuma, que esta professora tem um conhecimento sapiencial capaz de orientar e ajudar os outros na procura de si próprios, desenvolve relações de união e de respeito entre os seus alunos e ela mesma, nunca desistindo embora enfrentando todas as contrariedades pessoais e profissionais que vão surgindo no seu dia-a-dia. O facto de ter uma série de empregos para proporcionar aos seus alunos tudo o que eles precisam para a sua realização plena, demonstra bem o seu altruísmo. Naturalmente, o conhecimento instintivo também está presente, quando por exemplo tenta por todos os meios continuar a leccionar os seus alunos até ao final do secundário. Não que não tenha confiança neles, mas quer protegê-los de uma educação tradicional, com pouco interesse e que acima de tudo marginaliza os jovens de meios desfavorecidos e de diferentes culturas. O conhecimento científico é também muito importante na formação dos jovens, proporcionando-lhes bases científico-tecnológicas para continuação dos estudos e integração profissional. Embora no filme este tipo de conhecimento não seja muito focado, está implícito.


O filme é espectacular e saber que se baseia numa história verídica é ainda mais fantástico. Fico a pensar como é magnífico haver pessoas no mundo capazes de lutar com palavras e acções de paz, contra tudo e contra todos, na defesa das suas convicções, não para se exibir, mas para ajudar o outro. «É assim que o Santo se conhece a si, mas não se exibe» (Lao-Tse cit. por Patrício & Sebastião, 2004:80).


Bibliografia:
Delors, Jacques. (1996). Educação Um Tesouro a Descobrir- Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI. São Paulo: Edições ASA/Cortez.
Patrício, Manuel & Sebastião, Luís Miguel (2004). Conhecimento do Mundo Social e da Vida – Passos para uma Pedagogia da Sageza. Lisboa: Universidade Aberta.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Globalização

Defendeu, em Lisboa, o seu director-geral, Juan Somavia
OIT: esta globalização era "moralmente inaceitável e politicamente insustentável”
10.02.2009 - 11h51 João Manuel Rocha, Ana Rute Silva

“A globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável”, defendeu hoje Juan Somavia, director-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), presente na 8ª reunião regional da organização das Nações Unidas que decorre pela primeira vez em Lisboa.No seu entender, “já havia crise antes da actual crise financeira e económica”, que se agudizou, na Europa, em Setembro do ano passado, com a falência do banco britânico Lehman Brothers.Juan Somavia defendeu que “a Europa pode desempenhar um papel especial para que se adoptem políticas coerentes e com melhor coordenação internacional e regional, para evitar as políticas proteccionistas do passado”.
Neste primeiro encontro tripartido depois da crise internacional, o director da OIT aproveitou a presença do chefe do Governo português para lamentar a ausência de “coordenação internacional efectiva sobre o que deve ser feito”. “Os pacotes de estímulo (de resposta à crise) devem ser mais orientados para o emprego e com pacotes de protecção social”, frisou ainda, alertando que “muitos países europeus não estão numa posição de lançar programas de recuperação sozinhos”.Neste momento de crise mundial, Somavia aproveitou para defender “uma abordagem social do investimento baseada na agenda Decent Work da OIT”, apontando para a necessidade de “maior diálogo social”.A OIT estima que este ano haja mais 50 milhões de desempregados - quase oito milhões ou um quinto do total de desempregados estarão nas 51 nações europeias, com quase metade na EU a 27.Numa outra intervenção, Daniel Rioja, vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores, defendeu mais liquidez para o crescimento do emprego e propôs que os governos, as empresas e os sindicatos têm uma responsabilidade especial para trabalharem em conjunto. "O diálogo social é uma realidade concreta se quisermos empresas e empregos sustentáveis", concluiu Rioja.


PUBLICO.PT http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1364634 acedido em 19 de Agosto de 2009

Escolhi esta notícia por considerar que o fenómeno da globalização está aqui bem patente e que representa uma preocupação de várias organizações em relação à economia mundial. A globalização, tal como o nome indica, é um fenómeno global que se expandiu de tal forma que afectou, positiva e negativamente, todos os recantos do mundo em que vivemos. Embora a globalização esteja representada por três eixos de actividade humana – eixo económico, social e político; eixo científico-tecnológico; e eixo cultural (Patrício & Sebastião, 2004:53) – nesta notícia o principal enfoque vai para o primeiro eixo referido no qual, aliás, a globalização se faz sentir de forma mais acentuada (Patrício & Sebastião, 2004:54) do que nos outros eixos, embora estes também desempenhem um papel primordial no processo de globalização.


Existem expressões utilizadas por Juan Somavia, director-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que demonstram bem a importância da interdependência e interligação económica e política entre os vários países. Estas são as três expressões que considero que melhor representam essa relação: «A globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável»; «A Europa pode desempenhar um papel especial (…) com melhor coordenação internacional (…)»; «muitos países europeus não estão numa posição de lançar programas de recuperação sozinhos».


Porque é que isto acontece? Porque a globalização supostamente representa igualdade para todos e acesso igual a oportunidades, mas na prática não será bem assim, daí a preocupação do director-geral da OIT em responder à crise internacional com pacotes de estímulo mais orientados para o emprego e para a protecção social. É assustador perceber como a economia mundial se preocupa com os grandes grupos económicos, grandes empresas transnacionais e não aposta numa economia de base sustentadora do Estado-Nação dando condições de vida, condições de trabalho favoráveis aos cidadãos a nível local. Para que a liberalização da economia seja assegurada nacional e globalmente, os países mais industrializados e mais desenvolvidos política e economicamente, (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia) formaram um grupo, muito contestado por vários movimentos sociais, designado por G8[i]. A este grupo cabe a tarefa das grandes decisões globais a nível político, social, económico, etc.


A globalização está intimamente ligada às democracias liberais e é essencialmente neste ponto que se dá um dos grandes paradoxos deste paradigma. A ideologia neoliberal defende valores como «a paz, o respeito pelos direitos humanos, o progresso social e a prosperidade» (Patrício & Sebastião, 2004:46), mas a realidade a que assistimos é bem diferente: «crescentes manchas de marginalidade e pobreza, de exclusão e desemprego, de incapacidade e falta de igualdade de oportunidades» (Patrício & Sebastião, 2004:57). O trabalho precário também está bem presente na sociedade contemporânea. A globalização veio acentuar mais ainda as diferenças económicas e tecnológicas entre os países em desenvolvimento, que não têm condições para acompanhar o crescimento das grandes potências, e os países industrializados. Esta situação vai continuar a acontecer caso não se verifique uma verdadeira cooperação e entreajuda entre os países (Delors, 1997:145). Mas mesmo nos países industrializados, o fosso entre pobres e ricos é desmesurado, com tendência para piorar, ou seja, os pobres cada vez estão mais pobres e os ricos cada vez são mais ricos.


Quando Juan Somavia afirma que «a globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável», na minha opinião, considero que tem razão, apenas não concordo com o tempo verbal utilizado no predicado, pois considero que a situação ainda não foi, nem de perto nem de longe, ultrapassada. No fundo, as grandes empresas crescem à conta de mão-de-obra barata e precária, crescem à conta das crescentes necessidades dos cidadãos, crescem à conta de famílias que precisam desesperadamente de viver e sobreviver, por vezes sem a dignidade que lhes assiste enquanto seres humanos. Daniel Rioja, vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores, defende que os governos, empresas e sindicatos têm um papel primordial nestas questões sociais. Torna-se importante desenvolver o diálogo social para que os direitos e os deveres dos trabalhadores e das empresas sejam assegurados para que tanto as empresas como os empregos sejam sustentáveis.


Tal como referi inicialmente, a globalização afecta os países de forma positiva e negativa dependendo dos propósitos de como e para que é utilizada, especialmente no que concerne ao eixo científico-tecnológico – difusão da informação e do conhecimento, facilidade de comunicação e de transporte, poluição, doenças, etc. - e ao eixo político-económico-social - desemprego, exclusão social, liberalização da economia aos grandes mercados financeiros, etc. No que diz respeito ao eixo cultural terá de haver um reajustamento, se assim se pode chamar, entre a tradição cultural, que caracteriza várias regiões e várias comunidades em particular, e a modernidade e a diversidade em geral que cada vez mais se fazem sentir a nível regional. Este “reajuste” surge não com o intuito de provocar uma uniformização comportamental, mas para que cada um conserve a sua identidade ao mesmo tempo que se ameniza o choque de comportamentos radicais entre diversas culturas.


Para terminar, escolhi uma célebre frase de Lenine, que, quanto a mim, representa bem o que significa a globalização em termos de liberdade: «É verdade que a liberdade é preciosa, tão preciosa que deve ser racionada». Na minha opinião, a globalização dá-nos uma ilusão de liberdade, uma liberdade enganadora da qual estamos todos dependentes política e economicamente, uma liberdade racionada.


[i] In http://pt.wikipedia.org/wiki/G8 acedido em 2 de Maio de 2009


Bibliografia:

Delors, Jacques (1996). Educação Um Tesouro a Descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, São Paulo: Edições ASA/Cortez.

Patrício, Manuel & Sebastião, Luís Miguel (2004). Conhecimento do Mundo Social e da Vida, Lisboa: Universidade Aberta.

domingo, 16 de agosto de 2009

Compreender melhor o sujeito à luz dos diferentes paradigmas


A pessoa que elegi para tentar compreender melhor a partir dos diferentes paradigmas psicológicos e através dos paradigmas político-económico e ecológico, é uma pessoa de meia-idade, muito independente, que gosta de ajudar os outros, extrovertida…

Este indivíduo, analisado por mim à luz da corrente comportamentalista, não se enquadra no comportamentalismo em sentido estrito ou behaviorismo. É impensável olhar para esta pessoa sem ter em conta aspectos como a imaginação, o desejo, a percepção de si própria, dos outros e do mundo que a rodeia. Embora seja uma pessoa impulsiva e extrovertida é, ao mesmo tempo, uma pessoa introspectiva - analisa-se a si própria a partir do seu interior psicológico. É ainda uma pessoa voltada mais para o espiritualismo do que para o materialismo, rege-se por uma série de valores previamente formulados pela sua consciência devido a elementos internos, mas também devido ao contacto com o mundo exterior. Todas as características atrás enunciadas e que caracterizam, ainda que de uma forma muito breve esta pessoa em particular, são características que não estão contempladas no estudo do behaviorismo.

Quanto ao cognitivismo, esta corrente defende que entre o estímulo exterior e a resposta interna existe algo mais do que o equacionado pelo behaviorismo: Existe um sistema cognitivo que processa a informação exterior e que faz desencadear uma acção intencional no indivíduo porque este é um ser dotado de vontade própria. É possível, de alguma forma, enquadrar a pessoa que seleccionei para o meu trabalho nesta corrente cognitivista, embora as diferenças existentes entre esta e o behaviorismo não sejam substanciais, no entanto suficientes para justificar actividades e pensamentos de nível superior como, por exemplo, o processo de linguagem. Contudo, o ser humano continua a ser analisado de uma forma ainda algo mecânica.

Em relação ao construtivismo, ainda dentro do paradigma comportamentalista, este é uma corrente que acredita que tanto a realidade como o conhecimento são processos em permanente construção, nunca se podem considerar acabados. O conhecimento constitui-se através da interacção com o meio social e físico e da interacção com os outros. Nesta perspectiva, também é possível enquadrar o indivíduo que elegi para a realização deste trabalho, nesta corrente, mas apenas em certa parte e não na sua totalidade, porque todo o processo de construção do conhecimento é analisado através do contributo das ciências naturais, onde, obviamente, este sujeito se insere, mas onde não existe lugar para se analisar aspectos essenciais característicos do ser humano como a liberdade ou o espírito.

Passando agora para o paradigma analítico, do qual se destaca claramente a psicanálise de Sigmund Freud, este não se distingue em grande medida das posições tomadas pelos comportamentalistas. A diferença mais evidente é que no paradigma analítico é dada uma grande importância aos estímulos internos do indivíduo (pulsões ou instintos) que são reprimidos pelo superego, que tem como objectivo censurar o que não é moralmente aceite pela sociedade, pela cultura ou pela educação. A pessoa que neste momento representa o meu objecto de estudo, não se enquadra minimamente nesta corrente psicológica, onde parece não ser atribuída qualquer importância à responsabilidade, à espontaneidade, à criatividade e à racionalidade (Patrício, 2004, p.44), embora possa aceitar que o princípio da realidade está presente na sua consciência e que a pessoa, de uma forma ou de outra, se rege pelos valores formulados de acordo com os padrões da nossa sociedade e o que esta considera ético.

Penso que o paradigma humanístico-existencial é o que consegue explicar de forma mais perfeita e adequada a pessoa que tenho vindo a descrever, pois tem como objectivo fulcral o desenvolvimento pleno do ser humano em todas as suas dimensões biológica, psicológica e social e até espiritual. Esta pessoa gosta de ajudar e preocupa-se verdadeiramente com os outros que a rodeiam, que é um dos princípios deste paradigma. A força criativa e original, infelizmente, não foram muito trabalhadas ao longo da sua vida tendo, no entanto, descoberto nestes últimos anos várias actividades em que pode desfrutar e desenvolver estas suas capacidades. É uma pessoa dinâmica e determinada em conseguir aquilo que quer, se bem que muitas vezes lhe falta um pouco mais de confiança. Esta corrente aparece em oposição quer às correntes comportamentalistas, quer à psicanálise clássica, se bem que não as rejeita totalmente. Ao analisar o sujeito em questão, facilmente se percebe que este indivíduo é composto por algo mais do que apenas comportamentos mecânicos definidos por um estímulo que provoca uma resposta.

A relação que esta pessoa desenvolve com a sociedade em que se insere, no que diz respeito ao paradigma político-económico dominante, é uma relação, se assim se pode chamar, de amor/ódio: Se, por um lado, o individualismo neo-liberal se mostra compatível com valores como a paz, a liberdade, o respeito pelos outros, que são também valores estabelecidos na consciência desta pessoa em particular (relação de amor), por outro lado, as injustiças que este sistema político origina a nível social, situações como o aumento da pobreza, discriminação social, precariedade de emprego, desemprego, são factores que esta pessoa não aceita e não compreende (relação de ódio). De pensamento livre, este indivíduo gosta de dizer o que pensa, sem magoar o outro, procurando sempre dizer a verdade de uma forma que o outro compreenda o seu ponto de vista, podendo ou não aceitá-lo. Os aspectos contraditórios do individualismo acabam por fomentar ainda mais esta dualidade de sentimentos. Este tipo de democracia permite que o sujeito seja um ser autónomo (comportamento baseado nas normas da Ética), mas não demonstra interesse particular e genuíno pela população.

No que se refere ao paradigma ecológico, é uma pessoa interessada nos problemas ambientais realizando, por isso, algumas tarefas quotidianas ao seu alcance (por exemplo, a reciclagem) numa tentativa de minorar os efeitos negativos que o homem tem provocado na natureza e que cada vez mais se fazem notar e sentir. As pessoas que pertencem à sua geração têm alguma dificuldade em utilizar os diversos recursos naturais que têm à sua disposição de uma forma regulada e inteligente, de uma forma que permita garantir a sustentabilidade das gerações futuras. Existe uma dualidade de critérios bem patente no exemplo que darei a seguir: Este indivíduo em particular considera totalmente incorrecto a poluição dos rios provocada pelo “progresso”, no entanto, pequenos gestos como a poupança de água no uso doméstico, ainda não reflectem uma verdadeira preocupação da sua parte. Parece-me também que ainda não tem presente no seu consciente que tudo o que acontece numa parte do mundo afecta todas as outras partes, que tudo no universo está interligado.

Concluindo, o paradigma existencial é, quanto a mim, a corrente psicológica que melhor explica o comportamento humano e que consegue compreender de que forma o homem pode atingir a sua plenitude. O individualismo neo-liberal é, sem dúvida alguma, o paradigma político-económico que se instalou na maioria das sociedades contemporâneas, com algumas variações consoante a localização geográfica. Por último, o paradigma ecológico está cada vez mais presente na nossa sociedade, existe uma sensibilização cada vez maior por parte das escolas, autarquias, comunicação social, publicidade… As gerações mais antigas aprendem especialmente devido ao contributo vital que as gerações mais novas lhes vão transmitindo, muito graças ao sistema escolar. Com certeza, qualquer destes paradigmas ainda terá muito para desenvolver e para contribuir para “o conhecimento do mundo social e da vida”, desde que guiado pela sageza.

Bibliografia:
Patrício, M & Sebastião, L.M, Conhecimento do Mundo Social e da Vida – Passos para uma Pedagogia da Sageza, Universidade Aberta, 2004.