Defendeu, em Lisboa, o seu director-geral, Juan Somavia
OIT: esta globalização era "moralmente inaceitável e politicamente insustentável”
10.02.2009 - 11h51 João Manuel Rocha, Ana Rute Silva
“A globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável”, defendeu hoje Juan Somavia, director-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), presente na 8ª reunião regional da organização das Nações Unidas que decorre pela primeira vez em Lisboa.No seu entender, “já havia crise antes da actual crise financeira e económica”, que se agudizou, na Europa, em Setembro do ano passado, com a falência do banco britânico Lehman Brothers.Juan Somavia defendeu que “a Europa pode desempenhar um papel especial para que se adoptem políticas coerentes e com melhor coordenação internacional e regional, para evitar as políticas proteccionistas do passado”.
Neste primeiro encontro tripartido depois da crise internacional, o director da OIT aproveitou a presença do chefe do Governo português para lamentar a ausência de “coordenação internacional efectiva sobre o que deve ser feito”. “Os pacotes de estímulo (de resposta à crise) devem ser mais orientados para o emprego e com pacotes de protecção social”, frisou ainda, alertando que “muitos países europeus não estão numa posição de lançar programas de recuperação sozinhos”.Neste momento de crise mundial, Somavia aproveitou para defender “uma abordagem social do investimento baseada na agenda Decent Work da OIT”, apontando para a necessidade de “maior diálogo social”.A OIT estima que este ano haja mais 50 milhões de desempregados - quase oito milhões ou um quinto do total de desempregados estarão nas 51 nações europeias, com quase metade na EU a 27.Numa outra intervenção, Daniel Rioja, vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores, defendeu mais liquidez para o crescimento do emprego e propôs que os governos, as empresas e os sindicatos têm uma responsabilidade especial para trabalharem em conjunto. "O diálogo social é uma realidade concreta se quisermos empresas e empregos sustentáveis", concluiu Rioja.
OIT: esta globalização era "moralmente inaceitável e politicamente insustentável”
10.02.2009 - 11h51 João Manuel Rocha, Ana Rute Silva
“A globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável”, defendeu hoje Juan Somavia, director-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), presente na 8ª reunião regional da organização das Nações Unidas que decorre pela primeira vez em Lisboa.No seu entender, “já havia crise antes da actual crise financeira e económica”, que se agudizou, na Europa, em Setembro do ano passado, com a falência do banco britânico Lehman Brothers.Juan Somavia defendeu que “a Europa pode desempenhar um papel especial para que se adoptem políticas coerentes e com melhor coordenação internacional e regional, para evitar as políticas proteccionistas do passado”.
Neste primeiro encontro tripartido depois da crise internacional, o director da OIT aproveitou a presença do chefe do Governo português para lamentar a ausência de “coordenação internacional efectiva sobre o que deve ser feito”. “Os pacotes de estímulo (de resposta à crise) devem ser mais orientados para o emprego e com pacotes de protecção social”, frisou ainda, alertando que “muitos países europeus não estão numa posição de lançar programas de recuperação sozinhos”.Neste momento de crise mundial, Somavia aproveitou para defender “uma abordagem social do investimento baseada na agenda Decent Work da OIT”, apontando para a necessidade de “maior diálogo social”.A OIT estima que este ano haja mais 50 milhões de desempregados - quase oito milhões ou um quinto do total de desempregados estarão nas 51 nações europeias, com quase metade na EU a 27.Numa outra intervenção, Daniel Rioja, vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores, defendeu mais liquidez para o crescimento do emprego e propôs que os governos, as empresas e os sindicatos têm uma responsabilidade especial para trabalharem em conjunto. "O diálogo social é uma realidade concreta se quisermos empresas e empregos sustentáveis", concluiu Rioja.
PUBLICO.PT http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1364634 acedido em 19 de Agosto de 2009

Existem expressões utilizadas por Juan Somavia, director-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que demonstram bem a importância da interdependência e interligação económica e política entre os vários países. Estas são as três expressões que considero que melhor representam essa relação: «A globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável»; «A Europa pode desempenhar um papel especial (…) com melhor coordenação internacional (…)»; «muitos países europeus não estão numa posição de lançar programas de recuperação sozinhos».
Porque é que isto acontece? Porque a globalização supostamente representa igualdade para todos e acesso igual a oportunidades, mas na prática não será bem assim, daí a preocupação do director-geral da OIT em responder à crise internacional com pacotes de estímulo mais orientados para o emprego e para a protecção social. É assustador perceber como a economia mundial se preocupa com os grandes grupos económicos, grandes empresas transnacionais e não aposta numa economia de base sustentadora do Estado-Nação dando condições de vida, condições de trabalho favoráveis aos cidadãos a nível local. Para que a liberalização da economia seja assegurada nacional e globalmente, os países mais industrializados e mais desenvolvidos política e economicamente, (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia) formaram um grupo, muito contestado por vários movimentos sociais, designado por G8[i]. A este grupo cabe a tarefa das grandes decisões globais a nível político, social, económico, etc.
A globalização está intimamente ligada às democracias liberais e é essencialmente neste ponto que se dá um dos grandes paradoxos deste paradigma. A ideologia neoliberal defende valores como «a paz, o respeito pelos direitos humanos, o progresso social e a prosperidade» (Patrício & Sebastião, 2004:46), mas a realidade a que assistimos é bem diferente: «crescentes manchas de marginalidade e pobreza, de exclusão e desemprego, de incapacidade e falta de igualdade de oportunidades» (Patrício & Sebastião, 2004:57). O trabalho precário também está bem presente na sociedade contemporânea. A globalização veio acentuar mais ainda as diferenças económicas e tecnológicas entre os países em desenvolvimento, que não têm condições para acompanhar o crescimento das grandes potências, e os países industrializados. Esta situação vai continuar a acontecer caso não se verifique uma verdadeira cooperação e entreajuda entre os países (Delors, 1997:145). Mas mesmo nos países industrializados, o fosso entre pobres e ricos é desmesurado, com tendência para piorar, ou seja, os pobres cada vez estão mais pobres e os ricos cada vez são mais ricos.
Quando Juan Somavia afirma que «a globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável», na minha opinião, considero que tem razão, apenas não concordo com o tempo verbal utilizado no predicado, pois considero que a situação ainda não foi, nem de perto nem de longe, ultrapassada. No fundo, as grandes empresas crescem à conta de mão-de-obra barata e precária, crescem à conta das crescentes necessidades dos cidadãos, crescem à conta de famílias que precisam desesperadamente de viver e sobreviver, por vezes sem a dignidade que lhes assiste enquanto seres humanos. Daniel Rioja, vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores, defende que os governos, empresas e sindicatos têm um papel primordial nestas questões sociais. Torna-se importante desenvolver o diálogo social para que os direitos e os deveres dos trabalhadores e das empresas sejam assegurados para que tanto as empresas como os empregos sejam sustentáveis.
Tal como referi inicialmente, a globalização afecta os países de forma positiva e negativa dependendo dos propósitos de como e para que é utilizada, especialmente no que concerne ao eixo científico-tecnológico – difusão da informação e do conhecimento, facilidade de comunicação e de transporte, poluição, doenças, etc. - e ao eixo político-económico-social - desemprego, exclusão social, liberalização da economia aos grandes mercados financeiros, etc. No que diz respeito ao eixo cultural terá de haver um reajustamento, se assim se pode chamar, entre a tradição cultural, que caracteriza várias regiões e várias comunidades em particular, e a modernidade e a diversidade em geral que cada vez mais se fazem sentir a nível regional. Este “reajuste” surge não com o intuito de provocar uma uniformização comportamental, mas para que cada um conserve a sua identidade ao mesmo tempo que se ameniza o choque de comportamentos radicais entre diversas culturas.
Para terminar, escolhi uma célebre frase de Lenine, que, quanto a mim, representa bem o que significa a globalização em termos de liberdade: «É verdade que a liberdade é preciosa, tão preciosa que deve ser racionada». Na minha opinião, a globalização dá-nos uma ilusão de liberdade, uma liberdade enganadora da qual estamos todos dependentes política e economicamente, uma liberdade racionada.
[i] In http://pt.wikipedia.org/wiki/G8 acedido em 2 de Maio de 2009
Bibliografia:
Delors, Jacques (1996). Educação Um Tesouro a Descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, São Paulo: Edições ASA/Cortez.
Patrício, Manuel & Sebastião, Luís Miguel (2004). Conhecimento do Mundo Social e da Vida, Lisboa: Universidade Aberta.
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