domingo, 16 de agosto de 2009

Compreender melhor o sujeito à luz dos diferentes paradigmas


A pessoa que elegi para tentar compreender melhor a partir dos diferentes paradigmas psicológicos e através dos paradigmas político-económico e ecológico, é uma pessoa de meia-idade, muito independente, que gosta de ajudar os outros, extrovertida…

Este indivíduo, analisado por mim à luz da corrente comportamentalista, não se enquadra no comportamentalismo em sentido estrito ou behaviorismo. É impensável olhar para esta pessoa sem ter em conta aspectos como a imaginação, o desejo, a percepção de si própria, dos outros e do mundo que a rodeia. Embora seja uma pessoa impulsiva e extrovertida é, ao mesmo tempo, uma pessoa introspectiva - analisa-se a si própria a partir do seu interior psicológico. É ainda uma pessoa voltada mais para o espiritualismo do que para o materialismo, rege-se por uma série de valores previamente formulados pela sua consciência devido a elementos internos, mas também devido ao contacto com o mundo exterior. Todas as características atrás enunciadas e que caracterizam, ainda que de uma forma muito breve esta pessoa em particular, são características que não estão contempladas no estudo do behaviorismo.

Quanto ao cognitivismo, esta corrente defende que entre o estímulo exterior e a resposta interna existe algo mais do que o equacionado pelo behaviorismo: Existe um sistema cognitivo que processa a informação exterior e que faz desencadear uma acção intencional no indivíduo porque este é um ser dotado de vontade própria. É possível, de alguma forma, enquadrar a pessoa que seleccionei para o meu trabalho nesta corrente cognitivista, embora as diferenças existentes entre esta e o behaviorismo não sejam substanciais, no entanto suficientes para justificar actividades e pensamentos de nível superior como, por exemplo, o processo de linguagem. Contudo, o ser humano continua a ser analisado de uma forma ainda algo mecânica.

Em relação ao construtivismo, ainda dentro do paradigma comportamentalista, este é uma corrente que acredita que tanto a realidade como o conhecimento são processos em permanente construção, nunca se podem considerar acabados. O conhecimento constitui-se através da interacção com o meio social e físico e da interacção com os outros. Nesta perspectiva, também é possível enquadrar o indivíduo que elegi para a realização deste trabalho, nesta corrente, mas apenas em certa parte e não na sua totalidade, porque todo o processo de construção do conhecimento é analisado através do contributo das ciências naturais, onde, obviamente, este sujeito se insere, mas onde não existe lugar para se analisar aspectos essenciais característicos do ser humano como a liberdade ou o espírito.

Passando agora para o paradigma analítico, do qual se destaca claramente a psicanálise de Sigmund Freud, este não se distingue em grande medida das posições tomadas pelos comportamentalistas. A diferença mais evidente é que no paradigma analítico é dada uma grande importância aos estímulos internos do indivíduo (pulsões ou instintos) que são reprimidos pelo superego, que tem como objectivo censurar o que não é moralmente aceite pela sociedade, pela cultura ou pela educação. A pessoa que neste momento representa o meu objecto de estudo, não se enquadra minimamente nesta corrente psicológica, onde parece não ser atribuída qualquer importância à responsabilidade, à espontaneidade, à criatividade e à racionalidade (Patrício, 2004, p.44), embora possa aceitar que o princípio da realidade está presente na sua consciência e que a pessoa, de uma forma ou de outra, se rege pelos valores formulados de acordo com os padrões da nossa sociedade e o que esta considera ético.

Penso que o paradigma humanístico-existencial é o que consegue explicar de forma mais perfeita e adequada a pessoa que tenho vindo a descrever, pois tem como objectivo fulcral o desenvolvimento pleno do ser humano em todas as suas dimensões biológica, psicológica e social e até espiritual. Esta pessoa gosta de ajudar e preocupa-se verdadeiramente com os outros que a rodeiam, que é um dos princípios deste paradigma. A força criativa e original, infelizmente, não foram muito trabalhadas ao longo da sua vida tendo, no entanto, descoberto nestes últimos anos várias actividades em que pode desfrutar e desenvolver estas suas capacidades. É uma pessoa dinâmica e determinada em conseguir aquilo que quer, se bem que muitas vezes lhe falta um pouco mais de confiança. Esta corrente aparece em oposição quer às correntes comportamentalistas, quer à psicanálise clássica, se bem que não as rejeita totalmente. Ao analisar o sujeito em questão, facilmente se percebe que este indivíduo é composto por algo mais do que apenas comportamentos mecânicos definidos por um estímulo que provoca uma resposta.

A relação que esta pessoa desenvolve com a sociedade em que se insere, no que diz respeito ao paradigma político-económico dominante, é uma relação, se assim se pode chamar, de amor/ódio: Se, por um lado, o individualismo neo-liberal se mostra compatível com valores como a paz, a liberdade, o respeito pelos outros, que são também valores estabelecidos na consciência desta pessoa em particular (relação de amor), por outro lado, as injustiças que este sistema político origina a nível social, situações como o aumento da pobreza, discriminação social, precariedade de emprego, desemprego, são factores que esta pessoa não aceita e não compreende (relação de ódio). De pensamento livre, este indivíduo gosta de dizer o que pensa, sem magoar o outro, procurando sempre dizer a verdade de uma forma que o outro compreenda o seu ponto de vista, podendo ou não aceitá-lo. Os aspectos contraditórios do individualismo acabam por fomentar ainda mais esta dualidade de sentimentos. Este tipo de democracia permite que o sujeito seja um ser autónomo (comportamento baseado nas normas da Ética), mas não demonstra interesse particular e genuíno pela população.

No que se refere ao paradigma ecológico, é uma pessoa interessada nos problemas ambientais realizando, por isso, algumas tarefas quotidianas ao seu alcance (por exemplo, a reciclagem) numa tentativa de minorar os efeitos negativos que o homem tem provocado na natureza e que cada vez mais se fazem notar e sentir. As pessoas que pertencem à sua geração têm alguma dificuldade em utilizar os diversos recursos naturais que têm à sua disposição de uma forma regulada e inteligente, de uma forma que permita garantir a sustentabilidade das gerações futuras. Existe uma dualidade de critérios bem patente no exemplo que darei a seguir: Este indivíduo em particular considera totalmente incorrecto a poluição dos rios provocada pelo “progresso”, no entanto, pequenos gestos como a poupança de água no uso doméstico, ainda não reflectem uma verdadeira preocupação da sua parte. Parece-me também que ainda não tem presente no seu consciente que tudo o que acontece numa parte do mundo afecta todas as outras partes, que tudo no universo está interligado.

Concluindo, o paradigma existencial é, quanto a mim, a corrente psicológica que melhor explica o comportamento humano e que consegue compreender de que forma o homem pode atingir a sua plenitude. O individualismo neo-liberal é, sem dúvida alguma, o paradigma político-económico que se instalou na maioria das sociedades contemporâneas, com algumas variações consoante a localização geográfica. Por último, o paradigma ecológico está cada vez mais presente na nossa sociedade, existe uma sensibilização cada vez maior por parte das escolas, autarquias, comunicação social, publicidade… As gerações mais antigas aprendem especialmente devido ao contributo vital que as gerações mais novas lhes vão transmitindo, muito graças ao sistema escolar. Com certeza, qualquer destes paradigmas ainda terá muito para desenvolver e para contribuir para “o conhecimento do mundo social e da vida”, desde que guiado pela sageza.

Bibliografia:
Patrício, M & Sebastião, L.M, Conhecimento do Mundo Social e da Vida – Passos para uma Pedagogia da Sageza, Universidade Aberta, 2004.

Sem comentários:

Enviar um comentário